O Google impossibilita leitura profunda. A mídia muda. A fiação do cérebro também. Computadores pensam por nós, e nossa inteligência se vai. Caso você tenha conseguido transpor esse complexo texto, é possível que tenha chegado à conclusão de que o Twitter, e não o Google, é o inimigo do progresso intelectual humano.
Com o Twitter, as pessoas interessadas assinam para ler os "tweets" (pios) de outros usuários. Os escritores que conseguem tornar interessantes os detalhes de suas vidas cotidianas atraem grandes audiências. Diversos serviços foram criados para competir com o Twitter. Outros surgiram para ajudar as pessoas a administrar o prodigioso fluxo de informação advindo dos usuários do Twitter.
Existe até mesmo uma versão, o Yammer, para uso no interior de empresas. Você acompanha as frases curtas de outros funcionários. ("Reunião semanal. Bolinho bom. Por que todo mundo está de cáqui? Favor apresentar relatórios TPS no prazo".) Como se já não tivéssemos o bastante para nos distrair em nossos locais de trabalho, em meio a reuniões, telefonemas, mensagens instantâneas, mensagens de e-mail e todas aquelas buscas que precisamos fazer no Google.
Se as pessoas questionam os benefícios do Google, que em larga medida nos libertou de atividades entediantes referentes à busca de informações, há hostilidade aberta contra uma ferramenta que condensa as vidas de seus usuários ao tamanho de um haicai.
Jack Dorsey, co-fundador do Twitter, foi questionado pela revista Technology Review, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) - por meio de mensagem no Twiter, claro - sobre os motivos para que as pessoas que não conhecem o Twitter demonstrem "incompreensão ou raiva" quando informadas sobre o serviço. A resposta dele foi curta e insatisfatória: "As pessoas precisam descobrir o valor por si. Ainda mais c/ algo simples e sutil como o Twitter. Ele é o que você faz dele".
É difícil pensar em uma tecnologia que não tenha causado medo ao ser introduzida inicialmente. Em seu artigo para a Atlantic, Carr diz que Sócrates temia o impacto da escrita sobre a capacidade de pensar do homem. O advento da impressão mecanizada despertou temores semelhantes. E não seria a última vez que isso aconteceria.
Quando a Hewlett-Packard inventou a HP-35, a primeira calculadora científica portátil, em 1972, houve cursos de engenharia que proibiram seu uso em sala de aula. Os professores temiam que os alunos viessem a empregar as calculadoras como muletas, e que eles não mais seriam capazes de compreender as relações expressas por uma equação escrita ou pelo uso de réguas de cálculo, que na opinião daqueles professores aparentemente exerciam algum efeito misterioso sobre o pensamento científico proficiente.
Mas a HP-35 não resultou em degradação das capacidades científicas de parte daqueles que passaram a utilizá-la. De fato, nos últimos 36 anos, foram exatamente esses os engenheiros que nos trouxeram os iPods, celulares, televisores de alta definição e, é bom não esquecer, serviços como o Google e o Twitter. A nova ferramenta libertava os engenheiros de perder tempo com tarefas braçais ou repetitivas, e permitia que passassem mais tempo exercitando a criatividade.
Muitos avanços tecnológicos têm efeito semelhante. Tomem como exemplo o software usado para calcular e declarar impostos. O tedioso trabalho requerido para preencher uma declaração de impostos já não requer diversas noites de dedicação, mas apenas algumas horas. Isso nos oferece mais tempo para que nos dediquemos a atividades mais produtivas.
Mas para cada nova tecnologia que nos permite uma nova produtividade, não param de surgir outras que exigem mais e mais de nosso tempo. Esse é um dos aspectos dialéticos dominantes de nossa era. Com seus mapas e seu acesso à Internet, o iPhone permite que economizemos tempo. Mas com os jogos que podemos baixar para ele, estamos também carregando um console de videogame no bolso, agora.
E a proporção de tecnologias que resultam em perda de tempo pode subir, com relação às tecnologias que nos ajudam a poupar tempo. Em uma sociedade cuja base econômica é o conhecimento, e na qual o conhecimento é essencialmente gratuito, a atenção se torna uma mercadoria valiosa.
As empresas concorrem pela atenção dos usuários, um fato de mensuração de audiência que surgiu apenas na era do boom da Internet, e para isso precisa apresentar serviços e sites "grudentos", mais um termo interessante surgido na mesma era. Não somos pagos pela atenção que dedicamos a um veículo de mídia ou site, mas somos recompensados por ela com ainda mais distrações e com ainda mais produtos que requerem, ou até mesmo exigem, nossa atenção.
A suposição pessimista de que novas tecnologias de alguma estranha maneira tornarão nossas vidas piores talvez seja uma função da ocupação ou do treinamento profissional da pessoa que a propõe. O futurista Paul Saffo diz que é possível dividir o mundo da tecnologia em dois tipos diferentes de profissionais: os engenheiros e os cientistas naturais. Ele afirma que a visão de mundo do engenheiro é naturalmente otimista. Todos os problemas podem ser resolvidos se você dispuser das ferramentas certas e de tempo suficiente, e se puder apresentar as questões corretas. Outras pessoas, que podem dispor de formação científica equivalente, vêem a ordem natural do mundo em termos de entropia, declínio e morte.
E essas pessoas não estão necessariamente erradas. No entanto, o ponto de vista adotado pelos engenheiros prefere depositar confiança na capacidade humana de melhorar. Certamente houve momentos em que esse tipo de pensamento apresentou resultados claramente horrorosos -música atonal ou gastronomia molecular. Mas ao longo do curso da história humana, a escrita, a impressão, a computação e o Google na verdade só facilitaram o pensamento e a comunicação.